Thursday, 19 March 2009

Coisas Que Prefiro Não Saber

Tenho uma fascinação pelo amolador. Aquele senhor que vai de porta em porta e afia facas e afins. A esta fascinação acresce fantasia, provavelmente completamente irreal e infantil, pois desde muito pequena que me lembro da sensação que me transmitia o sabido assobio desta personagem. Na minha fantasia, acreditava-o portador do arco-íris.

Enquanto brincava no jardim, ouvia este maravilhoso som, cada vez mais audível com a aproximação; mas por mais longe que ele estivesse, talvez 3 ou 4 ruas abaixo, esta melodia tão própria e mística era, e continua a ser, inconfundível.

Nunca o vi, o que agradeço, pois não tenho duvida que a minha fantasia é bem mais romântica e colorida do que a realidade... espero nunca o ver. Tenho medo, que com o passar do tempo, deixe de o ouvir. Tenho medo que este assobio, tão bonito, venha juntar-se às memórias daqueles que já não me batem à porta, como o leiteiro, o padeiro ou a robusta peixeira que nos vinha feirar os seus tesouros a todas as quartas-feiras. Isto causa-me transtorno.

Há coisas que nunca quero conhecer. Há coisas que prefiro manter à distância de um sonho, de uma amada fantasia. Não quero perder o deslumbramento, o encanto que me move aquele assobio melodioso.

4 comments:

Unknown said...
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Unknown said...

Conseguiste em poucas palavras descrever (e de passagem, muito melhor do que eu o faria), o exacto sentimento que eu tenho com essa criatura e o seu fascinante som. Obrigada por isso e por muitas outras coisas.
De um lado da sala para o outro um beijo.

A. said...

"Há coisas que prefiro manter à distância de um sonho, de uma amada fantasia. Não quero perder o deslumbramento, o encanto que me move aquele assobio melodioso."

Perfeito!

Anonymous said...

O assobio do amolador era, na minha infância, uma serenata permanentemente inacabada. Um dia, soube que o amolador tinha morrido, de uma velhice escondida, mas o assobio continuou, como se nunca tivesse sido do amolador, mas sim de um fantasioso lugar do meu tecto de vida. É curioso, porque o assobio foi vagarosamente desaparecendo do meu mapa de lembranças, mas lendo este post, o assobio voltou. E o amolador também.