Wednesday, 12 May 2010

Um à Parte

Desta vez da Índia.

Terra de contrários...

Onde eu, que normalmente rodeada de pessoas estou habituada a sentir-me sozinha... aqui, do outro lado do mundo sozinha e não me sinto só

Onde o ar pesado carrega cheiro de misto de incenso doce e agua podre, por vezes repugnante, por outras sedutor.

Aqui os homens fazem de costureiros, cozinheiros e pintam-me as unhas na manicure. As mulheres carregam enormes apanhados de lenha e pesadas jarras de agua em cima da cabeça. Vestidas de Sari, acartaram com tijolos e escavam buracos nas infinitas obras à beira estrada.

Uma beleza, como nunca vi, uma pobreza como nunca vi...como vive aqui tal contraste em harmonia, extremos que coexistem de forma tão natural, sorrisos sinceros e espontâneos rasgados na cara de quem vive na verdadeira miséria.

Aqui, onde tantos estão esganados de fome, eu não tenho nenhuma. Fico sem coragem de deixar sequer uma migalha no prato, aqui estou cheia.

Passo horas no carro, no transito infernal desta cidade de barulho, movimento, buzinas sempre a buzinar, sempre sem parar.

Passo as noites em branco, cheia de calor e a ouvir um apito. Apito que apita irregularmente mas constantemente. Não percebo o porquê de alguém passar a noite a passear-se pela rua a apitar. Dizem-me , que é o guarda. Apita desalmadamente até ao amanhecer, para que saibamos onde o encontrar... e mais, que esta a trabalhar! Se o não o ouvirmos, é porque adormeceu.


Verdadeira terra de contrários, onde perante tanta miséria me sinto tão bem.

4 comments:

Unknown said...

Amei o teu texto. Fez me viver durante o tempo que o li toda a experiencia inesquecivel de Mother Asia.

Anonymous said...

muito bom.
sente se q ouviu a India....que nao adormeceu.

Anonymous said...

"O universo é uma harmonia de contrários"
Pitágoras

Anonymous said...

Acho-te maior que a India,

Tu que nos contrastes dos apostos apuras a magia dos sentidos.

E assim do nada, começas a sentir a existência, a suave correnteza da vida, os pequenos milagres de tudo, do epicentro do teu peito às remotas galáxias da tua imaginação.

Imagino que te passou pela cabeça chorar, chorar absolutamente por nada, naquele presente sem fim onde te tinhas suspensa.

Depois sentiste pequenina, mas diz-me se às vezes sentirmo-nos pequeninos não é de todas a mais real experiência de imensidão?

Acho-te maior que a India, Sarah.